quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

O nascimento da minha filha


Nessa minha jornada pelos tratamentos para engravidar, ouvi de mais de um médico a seguinte frase: o sucesso desse tratamento não é resultado do beta positivo, mas sim, o bebê no colo da mãe.

Eu experimentei na pele o que essa frase quer dizer. Em agosto de 2012 recebi meu beta positivo. Em outubro do mesmo ano, recebi a notícia do aborto retido.

Em junho de 2013, dois dias antes do meu aniversário, fui presenteada com uma nova gravidez. Claro que a notícia chegou em meio a muita alegria, mas dessa vez, eu e meu marido resolvemos comemorar cada dia como uma nova vitória.

A minha gestação não foi fácil. Com 10 semanas, o primeiro susto. Um sangramento. Pânico. Desespero. Medo de já ter visto esse filme. Tive uma placenta com inserção baixa o que causou essa pequena hemorragia. Foram quase três meses de repouso. A cada ultrassom, nós ficávamos sem ar. Eu não dormia na véspera, chorava, orava, implorava a Deus.

E assim vencemos essa etapa. No fim do ano, já com 34 semanas, um novo susto: contrações e um pouco de dilatação. Foram dois dias internada tomando um medicamento que ajuda a inibir as contrações. Passei o reveillon na cama, ao lado do Vinicius, meu marido, dos nossos cachorros, o Sheik e a Garota, e a nossa bebê, firme e forte em meu ventre.

Foram mais quatro semanas de repouso. Novamente, fiquei na casa dos meus pais. Nem sei o que faria sem o apoio incondicional deles, do meu marido e de toda a família e amigos.

No fim da gestação o ultrassom mostrou que, além da minha filha ser bem grande, a placenta já estava no último grau de maturação e o líquido amniótico já não estava tão límpido.

Apesar do desejo de vivenciar um parto normal, a preocupação e a ansiedade falaram mais alto. Marcamos a minha cesárea para o dia 28 de janeiro de 2014.

Hoje faz vinte e dois dias que a Maria Luisa nasceu. Ainda me sinto anestesiada. Em tão pouco tempo a minha vida deu uma guinada de 360 graus. As vezes sinto que a gravidez foi um sonho. Talvez por eu ter passado por tantas intercorrências, não tenha tido aquela gestação de novelas, romântica, cheia de sonhos. Claro que procurei curtir tudo, planejei o quarto, comprei o enxoval, aproveitei e me emocionei com cada movimento dela (já sinto tanta saudade!!). Mas eu nunca conseguia ficar  com o meu coração 100% em paz. Tudo me assustava.

Naquela terça-feira, 28/01, acordei cedo, tomei banho e me arrumei com capricho. Afinal, eu estava a caminho de um dos dias mais importantes da minha vida: o nascimento da Maria Luisa.

Fui para a maternidade com o Vinicus. Meus pais iriam a seguir. Chegamos lá no horário combinado e fizemos os papeis da internação. Ao entrar no quarto, a enfermeira já me esperava com a camisola em mãos para eu vestir. Fiquei apavorada, pois o médico havia dito que meu parto seria por volta das nove da manhã. Eram sete horas!

Segui as orientações dela para me trocar e para separar as roupinhas da neném. Eu nem havia escolhido qual ela usaria primeiro.

Fui para o centro cirúrgico acompanhada dela e do meu marido. Chegando lá, fui transferida para a maca de cirurgia. Meu medo era tamanho que eu não conseguia parar de tremer, meus dentes batiam como se eu estivesse com muito frio.

Logo comecei a ver rostos conhecidos. Meu pai, que também acompanhou o parto, chegou junto com os outros médicos. Fiquei super feliz em saber que o anestesista que me atenderia foi o mesmo que fez o parto da minha mãe quando nasci. Sou super apegada a esses detalhes e adorei.

O meu obstetra, Dr. Wilson Ottoboni, também é um profissional e ser humano sensasional. Ele me inspira total confiança e foi responsável por me ajudar a passar por cada semana da gestação.

Todos os outros membros da equipe foram super competentes e carinhosos. Minha gratidão a cada um deles, inclusive ao Dr. Wagner Marques, ultrassonografista. Ele nos transmitiu muita confiança, é super detalhista e nos acalmava a cada novo exame, felizmente sempre trazendo notícias boas e imagens deliciosas da nossa bebê (temos um trauma de ultrassom, pois foi realizando um que descobrimos o aborto retido na outra gestação).

Bem, apesar de me considerar corajosa, tinha pavor da cesárea! Uma coisa é ser operada após uma anestesia geral, em que não se vê nada. Outra é ficar deitada, imóvel, acordada, sabendo que sua barriga está sendo aberta. O fato de não ter controle da situação ao mesmo tempo de ter consciência plena de todo procedimento me deixava muito temerosa.

Não vou descrever todo o parto aqui para não virar um livro. Posso dizer que apesar de todo o meu medo, correu tudo bem. Foi tudo muito rápido, mais do que eu imaginava, e tranquilo. Vou disponibilizar um link abaixo que mostra esse momento.

Durante a gravidez eu fiz uma seleção de músicas significativas para mim e colocava sempre para a Maria Luisa ouvir. No dia do parto levei meu celular e fiquei ouvindo essas canções na sala de cirurgia. Infelizmente no momento em que ela nasceu eu estava tão grogue que não consegui colocar as músicas, conforme idealizei.

Esse foi o desfecho da minha trajetória. Foram quatro anos, sete FIVs, infinitas lágrimas - suficientes para acabar com o atual racionamento de água! -, raiva, revolta, angústia, e.... Uma imensurável felicidade!

Assim como vocês eu também passei por todo o processo da infertilidade. Fiz exames, ralei que nem uma doida pra juntar dinheiro com meu marido, abri mão de um monte de coisas pra economizar, senti vergonha de contar às pessoas, tive medo, me frustrei a cada negativo, achei que não fosse conseguir, pensei em desistir.

Mas.... A cada novo tratamento eu me sentia menos imatura, mais fortalecida e calejada. E, aos poucos, fui compreendendo que a coisa só aconteceria no tempo de Deus. Não é fácil esperar, especialmente quando a gente quer muito algo e também por eu ser tão imediatista. Foi uma prova dura a ser cumprida.

Eu e o Vinicius suportamos e vencemos todos os obstáculos que nos foram impostos. O que eu posso dizer disso tudo? VALEU A PENA!! Faríamos tudo de novo? SIM!!!

Hoje não sou mais dona do meu tempo e nem da minha vida. Eu já estava ensaiando escrever esse texto há dias, mas sempre que pensava em abrir o notebook, a Maria Luisa precisava de mim. Agora sou 100% dela. E estou realizada!

Nos primeiros dias não podia olhar para ela que eu começava a chorar - isso ainda acontece de vez em quando. Eu tenho uma mistura de sentimentos em meu coração, tudo o que se acumulou nesses anos. Ver a minha bebê é a certeza de que tudo deu certo. Peço muito a Deus para me ajudar a ser a melhor mãe possível e também para que me dê a oportunidade de retribuir a Ele essa graça maravilhosa.

Uma vez eu já postei aqui a frase de Chico Xavier: "A fé é a ausência da dúvida". Hoje eu a repito para confirmar que, apesar dos pesares, eu e o Vinicius nunca duvidamos que nossa filha chegaria. Não havia dúvidas, mesmo nos momentos de maior tristeza.

Espero que a minha história revigore o coração daqueles que estão ainda no meio do caminho, matando os vários leões por dia e suportando as provações. Não desistam! Vale a pena.

Esse é um pequeno vídeo que registra o momento mais sublime da minha vida, o nascimento da Maria Luisa.

http://youtu.be/akSzQUSWmB0