A ovodoação ou doação de gametas ainda é uma grande
dificuldade no Brasil. As mulheres que optam ou precisam fazer o tratamento com
óvulos doados precisam aguardar por uma doadora anônima com características semelhantes
às suas (descritas em um banco de dados da clínica), para então começar o
processo. Esta doadora também está esperando para fazer o tratamento, mas no
seu caso, a infertilidade parte de um fator masculino.
A receptora irá custear o tratamento da
doadora, que passará por todo o processo de estimulação e captação. Os óvulos
resultantes serão divididos entre ambas e cada uma seguirá com seu tratamento.
Em alguns casos, podem levar longos meses até
que haja um pareamento de dados entre receptora e doadora nas clínicas. Nossa
legislação ainda está se adaptando a este novo mosaico de constituição
familiar.
Hoje estava navegando na net e encontrei um
artigo de 2012, porém muito interessante sobre pessoas que viajam a outros
países, como a Espanha, em busca da facilidade da doação dos gametas. Achei que
valia dividir com vocês.
Sol, praia e fertilização: Espanha vira Meca do turismo reprodutivo
Ruth Costas Da BBC Brasil em Londres
Um resort cinco estrelas com vista para o mar,
praias de areia branca que se perdem no horizonte, céu azul da aurora ao
entardecer - e um procedimento de fertilização artificial no fim da tarde.
É oferecendo roteiros como esse - e bons
índices de sucesso em vários procedimentos de reprodução assistida, da
inseminação artificial à fertilização in vitro - que algumas agências e
clínicas espanholas ajudaram a consolidar o país como a Meca europeia do
chamado "turismo reprodutivo", o conjunto de serviços oferecidos a
estrangeiros com problemas de fertilidade para ajudá-los a alcançar o sonho de
ter um filho.
Estatísticas globais são desconhecidas, mas
estima-se que só na Europa mais de 20 mil mulheres cruzem as fronteiras de seus
países com o objetivo de voltarem grávidas.
De 35% a 40% dessas europeias vão à Espanha
segundo a Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE na sigla
em inglês). E nos últimos anos, as clínicas espanholas têm registrado um
aumento de clientes não-europeus, inclusive brasileiras - o que ajudou a animar
uma das mais conhecidas, o Instituto Valenciano de Infertilidade (IVI) a abrir
duas filiais no Brasil.
A verdade, porém, é que a grande vantagem da
Espanha nesse setor está longe de ser apenas a qualidade de suas clínicas,
muito menos a possibilidade de as pacientes passarem pelo tratamento durante as
férias de verão na Costa do Sol ou Barcelona, conforme explicaram à BBC Brasil
Guido Pennings, professor de bioética da Universidade de Ghent, na Bélgica, e
Françoise Shenfield, da University College London.
Eles integram uma força-tarefa formada por
especialistas do ESHRE para entender o setor do "turismo da
fertilidade" - ou, como preferem os médicos: os movimentos
transfronteiriços em busca de cuidados reprodutivos.
O motivo pelo qual Espanha e outros países -
como Chipre, Panamá, Índia, Bélgica e EUA - estão atraindo um número crescente
de casais e solteiros com dificuldade para ter filhos é por possuírem leis e
regras menos restritivas, o que lhes permite, primeiro, atender pessoas às
quais é vedado tratamento em outros países em função de sua idade ou estado
civil.
Além disso, esses países exploram com mais
eficiência (ainda que com níveis diferentes de racionalidade comercial) um
polêmico mercado de óvulos, sêmen e, no caso da Índia e EUA, até barrigas de
aluguel, inexistente ou incipiente em outros países.
Na Europa, as regras para o setor variam
bastante. França e Itália proíbem mulheres solteiras e casais gays de fazer
inseminação artificial ou de ter acesso à fertilização in vitro. Na Alemanha e
Holanda, há limites de idade.
A Espanha, além de ter restrições mínimas de
acesso ao tratamento, tem como uma das suas maiores vantagens comparativas o
estoque relativamente abundante de um componente que em muitos casos é
importante para quem quer engravidar perto dos 40 anos: óvulos de mulheres mais
jovens.
Vantagem comparativa
Os índices de doação de gametas femininos
(óvulos) em clínicas espanholas estão entre os maiores do mundo enquanto em
outros países há filas imensas para receber doações.
É esse o problema do Brasil, por exemplo, onde,
segundo Artur Dzik, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana,
alguns médicos têm sido obrigados a enviar suas pacientes para o país europeu
para completar o tratamento.
"Eu mesmo cheguei a enviar três ou quatro
pacientes para a Espanha, porque aqui elas teriam de esperar até 12 meses para
receber as doações enquanto lá há um banco de gametas femininos, e o óvulo está
disponível no mês seguinte", afirma Dzik, explicando que 20% das suas
pacientes têm mais de 40 anos - uma faixa etária na qual é comum a indicação
para uma "ovodoação".
A britânica Katie Brunton, por exemplo, decidiu
ir à Espanha para tentar engravidar aos 37 anos. Solteira, queria muito um
filho e começou o tratamento tentando inseminação artificial na Grã-Bretanha.
Após as primeiras tentativas, médicos britânicos lhe disseram que ela
precisaria também de uma doação de óvulo, mas em seu país a fila para conseguir
o gameta feminino poderia chegar a um ou até dois anos – e Katie não podia
esperar.
Sua filha, nasceu em 2011. “Foi a possibilidade
de viajar para Espanha que me ajudou a ter hoje ela nos braços”, diz Katie.
Mas o que faz com que os índices de doação
espanhóis sejam maiores que o de outros lugares?
O principal motivo, segundo especialistas e
organizações que advogam pela expansão do acesso a tratamentos reprodutivos, é
o valor pago às doadoras.
A União Européia - como o Brasil - proíbe o
comércio de gametas (óvulos e espermatozóides). "O raciocínio que norteia
essa proibição é que, do ponto de vista ético, permitir a venda de partes do
corpo seria uma afronta à dignidade humana", explica Pennings.
Mas isso não quer dizer que os doadores de
gametas não recebam nada. Alguns países, como a Espanha, "driblam" a
proibição oferecendo uma “compensação” aos doadores.
'Compensações'
A doação de óvulos é um processo que toma tempo
e exige que a mulher tome grandes doses hormonais. Na Espanha, a
"compensação" a quem se dispõe a passar por esse processo em geral é
de 900 euros (R$ 2.290) - enquanto os homens recebem cerca de 50 euros (R$ 126)
por doações de sêmen, por exemplo.
Nos EUA - um dos poucos países onde o comércio
de gametas é permitido - algumas clínicas chegam a fazer anúncios oferecendo
mais de US$ 40 mil para doadores com características específicas - em geral
relacionadas à beleza física e inteligência.
A Itália proíbe a coleta de óvulos desde 2004.
França e Alemanha, bem como Brasil, vetam o pagamento de
"compensações". "Aqui muitas das doações são feitas por outras
pacientes, que fazem tratamento porque têm outros problemas, não relacionados a
ovulação", explica a médica Silvana Chedid, diretora da IVI em São Paulo.
Na Grã-Bretanha, o valor da
"compensação" era de 250 libras (R$ 800 reais), mas há dez meses foi
triplicado na tentativa de impulsionar as doações. "Não é uma surpresa que
tenha chegado exatamente ao nível espanhol", diz Shenfield.
Segundo Pennings ainda é cedo para avaliar o
efeito da mudança, mas para ele há muitos outros fatores, além do financeiro,
que influenciam a taxa de doações.
"Um deles certamente é a questão do
anonimato", explica o médico Jordi Suñol, Diretor do Departamento
Internacional da clínica de reprodução assistida Instituto Marques, que nos
últimos anos abriu escritórios em Londres e Dublin para enviar pacientes para a
Espanha.
Anonimato
Enquanto as doações espanholas são anônimas, na
Grã-Bretanha, por exemplo, ao atingir 18 anos os jovens têm o direito de
pesquisar a identidade dos doadores.
Isso significa que um doador de sêmen ou óvulo
arca com o risco de ter algum jovem - ou jovens - batendo na porta de casa duas
décadas depois da doação.
"Também chama a atenção que a Espanha tem
índices altos de doações de órgãos, por exemplo", diz Suñol - ecoando uma
observação feita por Penning.
Para o médico, esses níveis gerais de doação
poderiam ser explicados por uma espécie de cultura "altruísta"
bastante disseminada no país. "Se uma jovem conhece pessoas que já tiveram
de fazer algum tratamento para ter filhos, por exemplo, pode se sentir
convencida de que deve doar", afirma.
Um dos efeitos que algumas clínicas espanholas
já estão sentindo com o aprofundamento da crise econômica no país é o aumento
da oferta de doadoras.
Segundo os representantes das clínicas, isso
lhes permite serem ainda mais rigorosos em seus processos de seleção - que
incluem avaliações do estado de saúde das potenciais doadoras até análises de
seu histórico familiar de doenças.
Fonte:
Ruth Costas Da BBC Brasil em Londres. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/09/120821_turismo_reproducao_espanha_ru.shtml>
Crédito da imagem: mdemulher.abril.com.br
Pois hoje ouvi falar disso. alguém teve essa experiencia? Como fi?
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