Muitas pessoas desrespeitam as qualidades que a vida de hoje proporciona e mantêm alguns comportamentos e hábitos inadequados que comprometem a própria fertilidade
Recentes avanços da ciência vêm aumentando o tempo de vida das pessoas. O ser humano a cada ano vive mais, é mais saudável, tem melhor qualidade de vida e é capaz de executar atividades físicas, intelectuais e profissionais que, até então, com a mesma idade, não conseguia executar. Isso é muito bom!
Entretanto, a capacidade reprodutiva das mulheres praticamente nada evoluiu, impedindo que possam ter filhos numa idade mais avançada. Em contrapartida, os homens, mesmo perdendo parte de sua fertilidade após os cinquenta anos, continuam tendo a possibilidade de gerar filhos em idades bastante avançadas.
Muitas pessoas desrespeitam as qualidades que a vida de hoje proporciona e mantêm alguns comportamentos e hábitos inadequados que comprometem a própria fertilidade. Por outro lado, alguns adultos não tiveram na adolescência a observação e atenção adequada dos próprios pais ou daqueles que deles cuidavam para algumas situações de relevância (obesidade, cólicas importantes, tabagismo etc.,) que comprometeriam a fertilidade em situações futuras.
Prejudicando a si mesmo
Embora quase todas as formas de dificuldade para engravidar possam ser tratadas, é inconcebível que, com tantas informações disponíveis nos meios de comunicação, algumas pessoas insistam em prejudicar a fertilidade de si próprias. E até mesmo quando adultas, já como pais, deixem de chamar a atenção dos seus filhos para alguns males como as DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis), o uso de drogas recreativas, fumo, álcool e peso a mais ou a menos.
Alguns exemplos de DSTs que podem prejudicar a fertilidade: clamídia, gonorréia, HPV (Human Papiloma Vírus), Hepatite B, Herpes Genital, sífilis, cancro mole ou cancróide, donovanose (infecção causada pela bactéria Klebsiella granulomatis, que afeta a pele e mucosas das regiões da genitália, da virilha e do ânus), linfogranuloma venéreo e tricomoníase além do HIV (AIDS).
Entre elas, as que comprometem mais diretamente o sistema reprodutivo estão a clamídia e a gonorréia que, principalmente nas mulheres, podem passar despercebidas. As outras como o HPV, hepatite B, herpes e sífilis, não causam diretamente a infertilidade, mas podem prejudicá-la pelos efeitos colaterais indesejáveis dos tratamentos. É importante frisar que a maioria dessas doenças podem ser evitadas desde que se use sempre preservativos nas relações sexuais.
Drogas
Entre os mais detestáveis produtos que afetam a fertilidade do homem e da mulher, estão as drogas ilícitas, também chamadas por alguns de “drogas recreativas”. Calcula-se que até 37% da população com idade adulta tenha experimentado, alguma vez na vida, uma destas drogas.
Atualmente, chama a atenção uma nova modalidade de viciados usuários de drogas lícitas. Estas drogas são receitadas normalmente por médicos como remédios específicos para tratamento de determinadas doenças, mas, ao serem utilizadas de forma inadequada ou combinadas com bebidas alcoólicas, produzem efeitos alucinantes e estimulantes. Este grupo de pessoas tem sido chamado de “Geração Prescrição”.
As pessoas costumam utilizar a combinação de solventes (éter e clorofórmio), benzodiazepínicos (ansiolíticos) e orexígenos (remédios para estimular o apetite), além de xaropes a base de codeína (xarope antitússico e alguns analgésicos), opiáceos, esteróides, barbitúricos (analgésicos potentes) e anticolinérgicos (Haldol, Haloperidol, Akineton, Bentyl e outros). Muitos destes produtos são usados como fonte de divertimento em festas noturnas.
Álcool
Em qualquer idade, o álcool em excesso é prejudicial. Pode destruir o indivíduo, desequilibrar suas relações pessoais e familiares, além de poder causar um custo imenso a sociedade. Calcula-se que, ao longo da vida, cerca de 15% da população mundial terá algum problema com álcool.
No Brasil, jovens bebem cada vez mais e mais cedo. Nos últimos anos o consumo de álcool aumentou em 30% entre pessoas de 12 a 17 anos e em 25% entre 18 e 24 anos. Um estudo da UNESCO mostrou que 34,8% dos 50 mil estudantes brasileiros dos ensinos fundamental e médio são consumidores de bebida alcoólica.
Fumo
O cigarro é considerado o veneno reprodutivo mais potente do século vinte e um. Vários estudos científicos comprovam seu efeito deletério sobre a saúde reprodutiva. A fumaça do cigarro contém centenas de substâncias tóxicas, incluindo a nicotina, monóxido de carbono, polônio radioativo, alcatrão, fenol, ácido fórmico, ácido acético, chumbo, cádmio, zinco, níquel, benzopireno e substâncias radioativas, as quais afetam a função reprodutiva em vários níveis.
Exemplos: a produção dos espermatozóides, motilidade tubária (importante para a captação do óvulo que sai do ovário no momento da ovulação), a divisão das células do embrião, formação do blastocisto (embrião com mais de 64 células) e implantação. Mulheres fumantes também podem apresentar maior incidência de irregularidade menstrual e amenorréia (falta de menstruação).
A fertilidade é reduzida em 25% nas mulheres que fumam até 20 cigarros ao dia, e 43% naquelas que fumam mais de 20 cigarros, ou seja, o declínio da fertilidade tem relação direta com a dose de nicotina. Durante a gestação, o fumo pode aumentar a incidência de placenta prévia (placenta baixa), descolamento prematuro da placenta e parto prematuro.
Peso a mais ou a menos
Tanto a obesidade quanto a magreza podem ser prejudiciais à fertilidade. As estatísticas demonstram que até 12% das causas de infertilidade são resultados do excesso ou baixo peso. O ideal, como quase tudo na vida é o equilíbrio.
Cada indivíduo tem um peso ideal indicado para sua estatura e constituição física, que deverá proporcionar um melhor potencial reprodutivo, tanto para o homem como para a mulher. Os detalhes deste assunto estão sendo explicados de forma mais clara no capitulo 2 deste livro (“Como a alimentação pode interferir na fertilidade”).
Outras situações
Entretanto, existem outras situações evitáveis de perda da fertilidade como a falta de atenção e diagnóstico de algumas doenças comuns, ainda na adolescência, como a varicocele no homem e ovários policísticos e endometriose na mulher que quando tratadas precocemente não causariam à dificuldade em ter filhos.
E ainda, existem situações que, alguns médicos, nos casos dos tratamentos do câncer (quimioterapia, radioterapia ou cirurgias mutiladoras), esquecem de recomendar às suas pacientes que preservem a fertilidade pelo congelando óvulos ou espermatozóides. Mesmo a perda da fertilidade com o avançar da idade da mulher, pode ser compensada com o congelamento antecipado dos óvulos.
A fertilidade deve ser protegida e preservada desde a infância, pois desta maneira, muitos casais poderão manter vivo sonho de engravidar naturalmente, mas, caso não consigam a ciência se incumbirá de dar apoio e resolver a questão. Devemos agir assim para evitar que no futuro um número cada vez maior de pessoas passe por esta frustração.
*Trechos do livro Fertilidade e Alimentação (Editora LaVidapress), do médico Arnaldo Schizzi Cambiaghi e da nutricionista Débora de Souza Rosa
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi é diretor do Centro de reprodução humana do IPGO, ginecologista-obstetra especialista em medicina reprodutiva. Criou também os sites: www.ipgo.com.br;www.fertilidadedohomem.com.br; www.fertilidadenatural.com.br, onde esclarece dúvidas e passa informações sobre a saúde feminina, especialmente sobre infertilidade.
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