sexta-feira, 12 de julho de 2013

Notícia veiculada pela grande imprensa sobre custos de uma fertilização in vitro cair para apenas 570 reais é equivocada


Divulgação não levou em conta todas as fases do tratamento, mas apenas uma, a que diz respeito à cultura dos embriões

Matéria divulgada pela mídia esta semana informa que novas tecnologias levariam a uma redução nos custos da fertilização in vitro (FIV), que poderia chegar a apenas 570 reais. Considerando que cada vez mais casais necessitam deste procedimento para realizar o sonho de serem pais, mas devido aos altos custos, em torno de 15.000 reais, este procedimento não é acessível à grande parte das pessoas, a notícia foi recebida com muito entusiasmo.
Realmente, muitos esforços vêm sendo empreendidos no intuito de baratear os custos do tratamento, entretanto, as informações foram divulgadas, infelizmente, de forma equivocada.
Esta informação se refere a um estudo, realizado na Bélgica, e apresentado esta semana durante o congresso da European Society of Human Reproduction and Embryoly (ESHRE), em Londres.
O que os pesquisadores belgas apresentaram foram novas técnicas, mais baratas, de cultura dos embriões – First preganancies with a simplified IVF procedure: a crucial step to universal and accessible infertility care. No método convencional, os mesmos ficam pelo menos três dias em cultura, em incubadoras modernas com gás dióxido de carbono para controlar níveis de acidez.
Em vez disso, a equipe do Genk Institute for Fertility Technology obteve dióxido de carbono a partir da mistura de ácido cítrico e bicarbonato de sódio, necessitando menor aparelhagem  e tornando, assim, o procedimento muito mais barato. Entretanto, a cultura dos embriões é somente um dos passos do ciclo de FIV.
Para se realizar essa técnica, a mulher recebe, inicialmente, injeções de hormônios, com o objetivo de desenvolver em seus ovários, folículos com óvulos. Durante esta fase, faz-se um acompanhamento ultrassonográfico e laboratorial (dosagens hormonais) até o momento mais adequado para a coleta, que é feita por meio de uma agulha especial, guiada por ultrassom transvaginal e sob sedação. Os óvulos aspirados são encaminhados ao laboratório, no qual são fertilizados com os espermatozoides do parceiro. A técnica nova não modifica esses passos e nem seus custos até aqui.

Confirmada  a fertilização, os embriões formados são mantidos em uma incubadora em um ambiente que simula as condições de temperatura, oxigênio e nutrientes do trato genital feminino. Com o novo método, essa fase é bem mais barata e necessita de menos aparelhos. Após alguns dias acompanhando o crescimento dos embriões, estes são transferidos ao útero da mãe para que complete seu desenvolvimento.

O novo método apresentado não modifica os outros passos do ciclo de fertilização. Assim, mesmo reduzindo-se os custos do laboratório, não se alteram os custos com medicação, acompanhamento, coleta de óvulos e transferência. Portanto, o tratamento não será de 570 reais como divulgado.

“É preciso cautela ao se divulgar isso, pois a diferença no tratamento, com esta novidade, seria em torno de 2 a 3 mil reais, referentes a algumas fases laboratoriais. E esta economia, infelizmente, pode não ter resultados no final”, afirma Arnaldo Cambiaghi, diretor do IPGO.

Rogério Leão, ginecologista obstetra especialista em reprodução humana e cirurgia endoscópica e membro do corpo clínico do IPGO lembra que além disso, os resultados ainda são prematuros e experimentais, não aplicáveis à prática clínica. No estudo, os testes foram realizados somente com pacientes jovens, sem fator masculino grave e com boa quantidade de óvulos coletados (pelo menos 8). Casos com alteração do sêmen, por exemplo, muitas vezes necessitam uma técnica especial para fertilizar os embriões, chamada ICSI (Intracytoplasmatic sperm injection - injeção intracitoplasmática de espermatozoide).

“Na FIV clássica, os óvulos são colocados junto dos espermatozóides e a fertilização ocorrerá espontaneamente. Na ICSI, os óvulos são fertilizados injetando-se um espermatozoide em cada óvulo. Isso não é possível com o novo método proposto”, diz Leão. 

Cambiaghi aponta que, no estudo, a taxa de sucesso ficou cerca de 30% abaixo da FIV convencional, que hoje gira em torno de 50%. “Apesar disso tudo, para alguns casos, poderá ser uma forma de reduzir os custos do procedimento. Assim, não podemos nos iludir com os dados apresentados, mas
aumenta a esperança de que, no futuro, a FIV seja um tratamento acessível a todos”, diz o diretor do IPGO.

Fonte: Assessoria de comunicação do IPGO

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