segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Um pouco sobre mim



Eu sempre soube que quando quisesse engravidar, teríamos que nos submeter a um tratamento de reprodução assistida. Meu marido tem varicocele bilateral avançada. Ele sempre foi muito resistente a cirurgia. Quando fomos ao primeiro médico, ele disse que mesmo com a cirurgia, no caso dele, a chance de melhora seria pequena e nós continuaríamos precisando do tratamento. Como ele tinha medo de operar, resolvemos pular essa etapa e partir para a FIV.

Como chegamos lá
Sempre quis ser mãe. Quando eu era pequena, bastava a criança ser menor que eu e o instinto maternal despertava. Eu já queria cuidar, pegar no colo, ser a líder da turma. E quando via uma grávida, então, ficava hipnotizada! A gestação sempre foi um mistério para mim. Até hoje fico divagando sobre o milagre da criação de uma vida, o dia a dia do crescimento e desenvolvimento do embrião, a conexão com a mãe, a formação de cada pedacinho, até chegar ao formato do bebê que conhecemos ao nascimento.

Eu me emociono cada vez que penso sobre isso. Tenho sonhos em que estou grávida, eu sinto a minha barriga durinha, me vejo barrigudona, nossa, eu adoro quando isso acontece.

Acabei me envolvendo muito com o meu trabalho, viajava muito e estava em uma fase muito legal. Resolvi curtir por um período e estava bem assim. Mas de repente, senti que havia chegado o momento de dar uma desacelerada. Em outubro de 2009, eu estava indo ao congresso mundial de ginecologia, na África do Sul. Quando meu voo foi anunciado, fui rapidamente tomar o anticoncepcional e na pressa o esqueci no balcão da cafeteria. Ao chegar lá, até consegui comprar a mesma pílula, mas não lembrava o dia da cartela em que estava e meu ciclo bagunçou.

Voltei ai Brasil, acho que inspirada por ter visto tantas coisas no congresso de gineco, e conversei com meu marido. Resolvemos que eu pararia a pílula para ver no que ia dar. Sabíamos que em decorrência da varicocele eu dificilmente engravidaria naturalmente. Ficamos tentando até fevereiro de 2010, quando finalmente fomos ao médico.

Meu marido já fazia acompanhamento da varicocele com ele então não foi tão demorado. Ele só pediu os meus exames e não encontrou nada que impedisse o início do tratamento de fertilização in vitro.

Em março, lá estávamos nós. Eu estava tão confiante e destemida!! O médico dizia: você é jovem, não tem nenhum fator nos exames que aponta problemas. Suas chances são excelentes! Nossa, imaginem a minha petulância e autoconfiança. Eu mal comecei as injeções e já me sentia grávida. Pobre de mim, eu mal sabia o que estava por vir...

Começaram os ultrassons seriados. No quarto ou quinto, ouvi uma das muitas notícias ruins do tratamento: meus folículos estavam crescendo em quantidade, mas não em tamanho. Conclusão: ciclo cancelado!!! Como assim, doutor????  

Pois é, rios de dinheiro gastos em medicamentos para nada e muita, mas muita frustração pra levar pra casa no lugar do bebê. 

Nem preciso dizer o quão horrível foi. Éramos totalmente inexperientes no assunto e solitários. Naquela época, ninguém sabia que fazíamos tratamento. Não tínhamos ninguém para desabafar, a não ser nós mesmos. Precisávamos arrumar forças para nos consolar.

Bem, sacudimos a poeira, fizemos uma breve viagem para espairecer, voltei a tomar pílula para limpar os ovários, e partimos para mais um tratamento em junho. Dessa vez, consegui ir para a primeira etapa, que era a aspiração dos folículos. Quando acordo da anestesia, primeira pergunta: e então, doutor, quantos óvulos eu tive (esperando ouvir 20, 25): 5. Nossa, que brochada.... Ele explicou que ficou desapontado, pois para alguém da minha idade, ele esperava mais. Aí começa mais um novo capítulo em nossa história, quando descobrimos que sou má respondedora. Gente, quando eu pensava que não poderia ficar pior, a coisa desandava de novo.

Claro que eu não engravidei. Nova reunião com o médico: Doutor, o que podemos fazer para termos mais chances? Resposta: Cirurgia da varicocele para tentar melhorar a qualidade dos espermatozoides. Se é isso que vai melhorar, então bora lá operar!

Confesso pra vocês que se o médico me dissesse: coma cocô que é cientificamente comprovado que você engravida. Eu comeria. Sei que é escatológico escrever isso, mas é só para exemplificar o desespero de quem passa por esses tratamentos infrutiferamente.

Voltando a minha trajetória. Em 2011 meu marido operou. No fim deste ano, resolvemos mudar de ares. Fizemos novo tratamento com outro médico. Novamente tive 4 óvulos, dos quais somente dois fecundaram. Gravidez zero.

Em 2012, mudança de médico de novo. Dessa vez, surpresa!!! Seis óvulos, cinco embriões. Pela primeira vez nos animamos. Transferi dois embriões e congelei três. Eu nunca havia tido embriões para congelar antes. Opa, ficamos animados. Dia do beta, e... Positivo!

Que sensação de alívio, de que tudo seria esquecido, que tudo tinha valido à pena. Mas, peraí, quem disse que conosco as coisas são fáceis? Primeiro veio o leve sangramento dois dias após o beta. Ufa, passou! No ultrassom das 6 semanas, o dia mais emocionante da minha vida, em que ouvi um coração do meu filho ritmado com o meu, batendo dentro de mim. Descobrimos que eu tinha engravidado dos dois embriões, mas um não se desenvolveu logo no comecinho. Por isso tive o sangramento naquele dia.

Vivi oito semanas de sonho. Eu acarinhava a minha barriga, conversava com o meu filho, contava para ele o quanto nós havíamos esperado por ele, o que nós planejávamos para a vida dele, o quanto ele era amado, e tudo aquilo que os pais fazem com seus filhos. No dia do segundo ultrassom, passamos no laboratório e fizemos a sexagem fetal. Afinal, esperamos tanto por esse bebê que queríamos mais é saber o sexo para curti-lo. De lá, fomos para a clínica de radiologia.

O médico posicionou o aparelho em minha barriga. Vi aquela imagem linda do feijãozinho na tela. Mas o som era de vazio. Eu não ouvia o coração como da primeira vez. Desespero total. Perguntei ao médico se havia algo de errado e ele disse que provavelmente sim. Meu mundo caiu. Meu sonho começou em 27 de agosto de 2012 e terminou em 2 de outubro de 2012. Simples assim. Da mesma forma silenciosa que ele chegou, meu menininho, João Vitor, foi embora. Sem nem me avisar.

Eu sofri um aborto retido e nem percebi. Tive que fazer uma curetagem, a maior agressão que meu corpo e a minha mente já sofreram. Um dia eu conto.

D.A.

6 comentários:

  1. Oi Dani,

    adorei o seu blog e me emocionei com sua história.

    Me identifiquei com a parte que vc menciona, que não tinha com quem dividir, e parte daí minha sugestão para um novo tema: quando não conseguimos contar para a família.
    Não sei como é para a maioria das mulheres, mas eu tenho uma grande dificuldade de contar para as pessoas que tenho problema em engravidar. E o caminho de quem passa por uma frustração atrás da outra, é muito solitário. Meu esposo me apoia e entende meus altos e baixos, meus dias de depressão e outros mais otimistas. Mas tento não sobrecarrega-lo com o meu verdadeiro desespero. Na maioria das vezes eu só vou deixando lá no fundinho, escondido.. e é só quando estou sozinha (no chuveiro, nas minhas caminhadas) é que deixo vir a tona com força total.
    Ás vezes penso que seria mais fácil abrir o bocão e dizer pra todo mundo: parem de me cobrar, eu não consigo engravidar!!!
    Mas já ví esse "filme" com outras pessoas da familia e o comentário no geral não é nada solidário. Algo do tipo: foi por isso que não casou grávida!
    Como se todo o mérito da pessoa de ter se esforçado para seguir um curso correto, na ordem correta das coisas fosse anulado por um simples problema.

    Bem espero ter conseguido me expressar de forma entendível.. rsss..

    Um abraço e vou continuar acompanhando seu blog.

    Nina

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  2. Ola Dani, parabens pelo blog. estou acompanhando suas materias pois sou mais uma de tantas que estao em busca do maior sonho: ser mae. estou nesta busca ja faz 5 anos entre tentativas e erros e uma unica positiva mas que foi ectopica. gostaria de sugerir um tema: as vacinas de linfocitos paternos. existem muitas controversias sobre elas mas ja vi varias meninas que conseguiram depois de faze-las.
    continuo aqui te acompanhando. sorte para gente.
    Lala

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  3. Oi, Lala, que bom que temos mais uma companheira aqui no blog! Pode deixar que a sua sugestão já foi incluída em minha lista. Vou pesquisar sobre ela também.
    Apareça sempre. E quando tiver algo interessante para contar, compartilhe conosco. Um beijão

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  4. Oi Dani. Acabei de encontrar o teu blog. Pesquisando sobre FIV e CA de mama. É que acabei de terminar um tratamento oncológico pra um CA colorretal.. Fiz um transvaginal e estou com os ovários reduzidos, por conta da radioterapia, um mede 1,9 cm e o outro 2,4. Tenho 30 anos e não casei ainda... Quero tanto ter filhos, mas acho que não vai dar. Ou vou recorrer a reprodução assistida... E dinheiro? hehehe... Vida não é fácil. Faz um ano que não to menstruando. Nunca sofri tanto na vida quanto com o tratamento do câncer. É difícil, e vendo vc falar assim... Parece que se eu quiser isso vou enfrentar outro sofrimento novamente. Me dá vontade de chorar, só de pensar. Fiz 2 QT com 28 RT, operei, retirei 12cm do intestino e reto, depois 8 QTs... Foi tão ruim, que nem quero me lembrar, mas me fez perceber que a vida é bela, apesar de tudo. Abraçao! Meu blog: www.acnerino.blogspot.com.br

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    1. Oi, Milena, seja bem-vinda! Primeiramente, calma! Uma coisa de cada vez. Você acabou de vencer uma batalha muito grande que é o câncer. Parabéns! E por isso você já deve se sentir abençoada e vitoriosa.
      A vida realmente pode ser mais difícil para algumas pessoas. Mas eu também acredito muito que Deus coloca esses obstáculos para os seus filhos capazes de ultrapassa-los. Somos nós! Cada qual com o seu problema, vamos nos dedicando e nos destacando.
      Fique tranquila. Você ainda é super jovem, está reiniciando sua vida após essa importante luta contra o câncer. Tenho certeza que no momento oportuno seus ovários irão se recuperar e você será presenteada com um filho lindo. E se precisar da ajuda da medicina, existem diversos programas que a auxiliarão a fazer o tratamento. Dê tempo para o seu corpo se recuperar. O organismo humano é incrível e surpreendente.
      Volte sempre, ok?
      Beijos, Dani

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  5. Milena, tudo bem? Soube que o hospital Pérola Byington, em SP, tem um programa de FIV gratuito. Dê uma olhadinha!
    E veja o artigo que saiu hoje no Estadão:
    Cientistas identificam droga capaz de evitar infertilidade em mulheres após quimioterapia

    Pesquisa explicou como medicamento usado para tratar câncer de mama causa a infertilidade feminina e, a partir disso, identificou uma droga capaz de proteger a paciente contra tais danos. O remédio, porém, ainda está sendo testado.

    O estudo, além de explicar os motivos pelos quais esse problema ocorre, propôs uma forma que pode ajudar a evitar o efeito adverso. A pesquisa, feita no Centro Médico Sheba, em Israel, foi publicada na revista Science Translational Medicine. (http://stm.sciencemag.org/content/5/185/185ra62)

    A infertilidade é uma questão importante no tratamento de mulheres jovens com câncer. Como ainda não há uma droga disponível que evite a infertilidade, a saída é congelar óvulos ou até embriões.

    FONTE: Jornal Estadão

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